Translate

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Sonho de ser medica

                Marla tinha levado 10 anos para se formar na faculdade de medicina e se especializar em pediatria. Sempre gostou de ajudar as pessoas, mas quando seu irmão morreu por negligencia medica Marla decidiu que pediatria seria a profissão de sua vida. Ela tinha apenas 16 anos quando o irmão faleceu, desde então ela baixou a cabeça e dedicou-se aos estudos. Logo que saiu do ensino médio passou numa das mais conceituadas faculdades de medicina e se mudou para a capital de seu estado. Estudou muito, passou necessidade, mas finalmente atingiu seu objetivo, se formou.
                Marla vinha de uma família muito humilde, logo que ela terminou a faculdade recebeu um convite para trabalhar no hospital de sua cidade natal, pegou suas coisas e foi. Já fazia 10 anos que estava distante de sua terra natal e foi um susto para Marla reencontrar alguns amigos. Alguns tinham casado e tido filhos, Marla nunca teve um namorado, outros continuavam com sua vida de festas, entretanto tinha aqueles que infelizmente tinham caído no mundo do crime.
                Logo na primeira semana de seu novo emprego Marla percebeu que a estrutura daquele hospital era precária sem falar na falta de medicamentos. Marla mandou currículo para vários lugares, não gostava de trabalhar ali, não tinha estrutura necessária, ela não conseguia ajudar as pessoas, mas infelizmente não foi chamada em lugar nenhum. Cada vez ela estava mais desgastada, com apenas 31 anos Marla já parecia ter 40 anos. Não dormia direito, não se alimentava direito, tinha uma vida muito corrida e ainda não tinha arrumado um namorado, não visitava os pais era uma pessoa sozinha.
                Ela se encontrava em mais um de seus plantões intermináveis quando chegou uma paciente aos prantos, uma jovem mãe, parecia ter na casa dos 21 anos, com a filha pequena nos braços jorrando sangue pela boca, gritava desesperada pedindo ajudada. A recepcionista tentou fazer o cadastro da menina, mas foi impossível, Marla saio correndo de sua sala e levou um susto ao ver a criança daquele estado, na mesma hora ela viu seu irmão nos braços daquela mulher. Ela sabia que se não fizesse algo essa menina podia ter o mesmo destino do irmão. Pegou a criança dos braços da mulher e a levou para sua sala, a medicou e pediu alguns exames, a moça da recepção xingou Marla por ter passado a menina na frente dos outros pacientes sem nem ao menos ter feito o cadastro, Marla fingiu não ouvir, as vezes ela achava que as pessoas daquele hospital não tratavam as pessoas como pessoas. Depois de alguns exames a menina foi diagnosticada com H1N1, Marla sabia que o remédio estava em falta em todo o estado. Fez algumas ligações e conseguiu encaminhar a menina para Porto Alegre.         Passou alguns dias e Marla não tirava a menina da cabeça. Decidiu levar algumas flores ao tumulo do irmão, e tamanho foi o choque quando viu a mãe da menina chorando no cemitério em frente a uma lapide. Marla foi correndo ao seu encontro.
                - Dona Cristina o que faz aqui? Como esta nossa pequena Ana? – A mulher não conseguiu falar, apenas apontou para o caixão, quando Marla se virou ela viu o que já imaginava ver, mas que não queria acreditar, naquela lapide tinha a foto da pequena Ana.
                - Não tinha mais o remédio Dra Marla, ficamos numa fila de espera enorme, ela não resistiu.  – Marla abraçou dona Cristina e choraram juntas. Ela reviveu toda a morte do irmão naquele instante. Na época Marla culpava o medico pela morte do irmão, hoje ela viu que o medico era apenas mais uma vitima da defasada saúde Brasileira. Marla chorou com a alma, pelo seu irmão e por Ana, e por todas as crianças que viriam a ter um destino como o deles. Por todas as pessoas que morreriam nas filas de hospitais por falta de medicamentos e leitos, por todas as pessoas que teriam suas historias roubadas por aqueles que tinham sido eleitos para auxiliar quem não tinha condições, mas que chegavam ao cargo eletivo e esqueciam esse povo sofrido que queria apenas ser tratado com respeito e dignidade.

Foto retirada da internet

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Hi Guys!