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segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

A geração "NÃO ME TOQUE"

 E essa nova geração veio com tudo. São todos inteligentes, cultos, donos da verdade, pessoas preocupadas com o futuro. A geração que veio para mostrar para a geração de nossos pais e até mesmo de nossos avôs que devemos lutar por nossos direitos, que não seremos “manipulados”, que tudo saberemos graças a essa tecnologia que avança cada dia mais.
 Essa geração vai à rua, mostra sua insatisfação com o governo, essa geração que se manifesta contra o machismo, contra as grandes empresas e tudo o que for “errado”. Essa que não deixara ninguém “calar” a sua voz. Essa geração que debate política e defende a educação sem nem ao menos ter lido uma única vez como funciona a política do nosso país. Que não sabe a diferença de um deputado federal para um deputado estadual, que não estuda, não respeita os professores e muito menos as normas da escola, mas vai as ruas pedir por mais “educação”.
 É parece que um manifesto para usar short na escola é uma causa muito justa e digna, acho que devemos abandonar os estudos - afinal como vocês estudar tranquilas com essa sociedade machista que impõe que não podemos usar shorts da escola - e nos manifestar contra essa injustiça. Vamos nos manifestar também contra a violência contra a mulher, em objeção a essa sociedade machista e opressora - mas eu acho o cumulo sair com o cara e ter que pagar a minha conta. E também vamos nos manifestar contra esses homofobicos que não entendem o amor entre dois iguais. E não podemos esquecer de nos manifestar contra esses racistas e intolerantes - que podemos ofender de todos os apelidos possíveis “alemão”, “galego”, “branquelo azedo”. E se já não bastasse todo esse pessoal sensível, apareceram outros grupos com seus “egos feridos”. Agora vamos nos manifestar contra os gays, porque eu acho ridículo duas pessoas do mesmo sexo tendo relações - sendo que o que as pessoas fazem entre quatro paredes não desrespeita a ninguém. E esses fanáticos religiosos? Acho que devíamos nos manifestar contra eles, afinal somos livres para acreditarmos no que quisermos - inclusive decidi que vou adorar essa vaca, afinal ela é um animal santo. Vamos nos manifestar contra essas feministas, afinal a mulher já tem o respeito e o lugar na sociedade que merece (e deve aceitar elogios como “gostosa” “oh La em casa”, toda vez que passamos por um cara, que por algum motivo sente-se “atraído” por essa mulher e achar que o “estupro” é culpa da vitima, afinal ela pediu usando essas roupas ousadas).
 Desculpe a ironia e o exagero – em algumas partes não exagerei – mas essa geração “não me toque” fala muito e escuta pouco. Formam opiniões através do que vem na TV, mas jamais parariam para ler a constituição Brasileira. Defendem a constituição, mas não a respeitam. Lutam contra a corrupção, mas tentam se ”dar bem” em todas as oportunidades possíveis. Uma geração que acha que sabe muito e sabe muito menos que as outras. Que é manipulada como marionete e acha que é livre. Esses “revolucionários” que lutam furiosamente pelo seu país, sem sair do conforto do ar condicionado que os pais colocaram no quarto e muito menos sair da frente do computador.
 Infelizmente acho que essa é a geração mais chata de todos os tempos – tomara que ninguém me processe por isso, afinal hoje em dia tudo vira processo. Egoístas, mesquinhos e ignorantes! Colocam seus interesses pessoais em primeiro lugar para depois se importar com o bem em comum. Porque no Brasil corrupção é visto como algo comum, coisa do dia a dia, mas inventa de um casal gay se casando – lembrando que o casamento é um contrato – para ver a guerra que se forma, claro porque denigre a família Brasileira gays se casaram, mas você trair seu parceiro é algo super comum.
 Porque a esquerda defende o povo humilde e a direta defende a elite enquanto o governo analisa, estuda onde eles podem aumentar um imposto para suprir suas necessidades, como um triplex de luxo. Enquanto nós Brasileiros estamos aqui brigando por motivos idiotas somos roubados e manipulados cada dia mais. Quando vamos parar de dizer “sou feminista” “sou ateu” “sou anti PT” e vamos começar a dizer “somos Brasileiros e todos juntos vamos lutar por nosso país”? Quando vamos deixar as diferenças de lado e lutar por o bem mais importante que temos que é nosso lar? Que esta sendo estraçalhado por esses homens que deviam governar para nós, afinal eles trabalham para nós. Quando vamos nos dar conta que essas brigas ideológicas não são nada mais nada menos uma manobra desses homens de terno para nos mantermos ocupados enquanto eles fazem a festa?
 Quando colocarmos nosso amor por nosso lar, nossa família – independente de como ela for constituída – por nossa infância, nossas lembranças, por nossa natureza em primeiro lugar, não haverá mais denominação alguma e sim milhares de pessoas lutando por justiça, lutando por um país melhor, por direito de faculdade a todos, por segurança, por respeito – porque já perderam o respeito pela gente há muito tempo – quando olharmos para toda mulher e imaginarmos que um dia ela pode ser mãe e que ela será o mundo de alguém como nossa mãe é o nosso, quando colocarmos nosso amor em primeiro lugar e gritarmos com um orgulho eu amo esse país, só quando todas essa mudanças acontecerem as coisa tomarão um rumo diferente. Poderemos nos denominar como uma geração de valor, que saiu do conforto da tecnologia para defender, deixou as diferenças e a zona de conforto de lado e veio proteger esse lindo e imenso lar chamado de Brasil.
Foto: Leonardo Braga


terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

A mulher do século XXI

 A essa mulher do século XXI; tão destemida, tão cheia de vida. Ninguém a segura!
 Ela conquistou o seu direito de trabalhar fora, de dar sua opinião politica e administrar a sua vida. Essa mulher que por muitos anos foi obrigada a cuidar de casa e servir apenas ao marido sem lhe perguntarem se essa era sua real vontade. Essa mulher que já sofreu tanto e que agora usa seu batom vermelho quando tem vontade, veste uma roupa justa e é dona de si. Essa mulher que não sabe cozinhar como a mãe, mas acredite ela bebe como o pai. Essa mulher que escolhe quando quer fazer sexo e com quem quer, sem se importar com tabus e moralismo de gente que não tem moral. Ela administra sua vida da forma que achar melhor, sem se importar com os outros, mas será que é realmente assim?
 Tentamos criar uma sociedade muito livre, e acabamos presos a novos tabus. Hoje em dia se uma mulher decidir ser dona de casa, mãe de família, chega a ser ofensa para as outras "porque ela não arruma um emprego fora de casa?", "eu não quero essa vida de dona de casa pra mim", entre outros bobagens que eu já ouvi e vocês também já devem ter ouvido. De novo a sociedade tenta impor seus rótulos e se intrometer no intimo de cada um.
 Todos somos livres para decidir se queremos ir num pub ou numa festa, se vamos tomar uma cerveja gelada ou uma caipira, se vamos para uma balada ou simplesmente vamos ficar em casa mais um dia, entretanto não somos livres para decidir se essa pessoa deve viver ou morrer, não somos livres para decidir a vida de alguém além de nós mesmos. Todavia a maioria das pessoas ainda insistem em se intrometer nas escolhas particulares de cada um. Se uma mulher quer casar, ter filhos e um marido, é um direito todo dela e deve ser respeitado, se uma mulher decidi se focar na carreira profissional e não dar espaço para compromissos serio é uma escolha dela também.
 Essa "nova mulher" é tão admirada e ao mesmo tempo tão criticada. Porque a mulher ela "pode" fazer o que quiser, desde que não "perca" os padrões antigos, ela vai ser uma boa mãe, uma boa dona casa com certeza. Mas e se ela não quiser? E se ela preferir viajar o mundo? Ou se focar na carreira profissional? Ou ainda se ela quiser balada e festa? E se ela quiser tomar uma cerveja com as amigas? Qual o mau nisso? Não estou aqui para dizer o que é certo e nem o que é errado, mas que acima de tudo temos que ser felizes. Não sabemos quanto tempo vamos ter nessa terra, e nem as pessoas que amamos. Então ame, brinque, sorria, chore faça o que tem vontade, porque a gente vive apenas uma vez e dessa vida só se leva a alma.

Foto: Natália Luiza, Tainara Garcia, Djulian Muller, Nathanie Surian, Giulia Kaizer

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

A moça dos olhos clarinhos

               A vida não andava muito fácil. O governo aumentou tanto nossos impostos que tivemos que diminuir a comida. É complicado isso quando se tem cinco filhos para criar. Mas morar no litoral tinha suas vantagens, sempre tinha algum turista que a gente podia enrolar, e no final acabava sendo um dinheiro fácil. Nunca tive remorso de tirar desses gringos o que é nosso por direito, não acho que alguém deva ter tanto dinheiro assim.
                Meu primo Zeca tinha me convidado para trabalhar num estacionamento de um evento musical que acontece aqui na região, aonde vai um monte de riquinho com o dinheiro dos pais. Mas Zeca não era como eu, achava que se fosse honesto a vida toda uma hora iria ser retribuído, pobre Zeca, não fazia ideia de como era tolo. Aceitei para Ana não desconfiar de onde vinha o dinheiro para a comida das crianças. Ana era a mulata mais linda que já tinha visto na minha vida, quando a conheci, nunca liguei para os minúsculos shorts que ela usava, e nem que ela já tinha saído com todos os meus amigos, eu era encantando no sorriso dela, nos cachos volumosos e em como ela me tratava bem. Ana era uma moça humilde, e ingênua, não frequentou a escola, não sabia ler nem escrever. Mas fazia tudo o que podia pelos filhos. Olhando-a vi que sua beleza não era mais a mesma, afinal de contas depois de cinco filhos o corpo da mulher já não fica mais igual. Ela tinha engordado, não entrava mais nos shorts que usava quando a conheci, e o cabelo já não tinha mais a linda onda daqueles cachos e sim um volume indefinido. Ela havia perdido o sorriso encantador que tinha quando a conheci, de uns tempos para cá tudo a incomodava, reclamava que eu não era bom marido, que não tínhamos dinheiro para sustentar as crianças, que odiava a vida que tinha, há mulata, se ela soubesse tudo que eu já fiz para colocar um prato de comida na mesa ela não reclamaria assim.
                Comecei a trabalhar com o Zeca, o salário não era dos melhores, mas era apenas dois dias, seria jogo rápido. Logo no primeiro dia fiquei apavorado com a quantidade de pessoas que chegou naquele lugar, vinha gente de tudo quanto é lado para prestigiar os gringos que iam tocar. Tolos, com tanto dinheiro gastando nessas bobagens e eu precisando só de um pouco para meus filhos, senti certo aperto no coração, meus filhos jamais viriam num evento como esse. A chegada de um novo carro ao estacionamento tirou minha atenção, e mais ainda quando os passageiros desceram. Nunca tinha visto um ser tão lindo. Seus olhos eram clarinhos, quando se aproximou vi que eram verdes, o cabelo era curtinho de uma cor que desconheço, mas o batom vermelho dava um contraste incrível nos dentes brancos. Quando me viu sorriu, mas sorriu para todos os lados, distribuía sorrisos sem esforço algum. Ela veio e foi tão rápido, que passei o resto da noite lembrando daqueles olhos clarinhos, quando voltaram para buscar o carro, estava ela, sorrindo daquele mesmo jeito inocente para todos que a olhassem. No segundo dia estava ela de novo, mais linda do que no primeiro, dessa vez ela me deu oi em voz alta e fiquei encantado em como sua voz era meiga.
                A noite decorria muito bem, quando decidi conversar com Zeca sobre meu dinheiro, afinal de contas não tinha recebido pelo primeiro dia. Ele me chamou para um canto e disse que as coisas não tinham sido tão boas como os outros anos e que não ia poder me pagar o prometido. Não me contive e o empurrei, afinal o estacionamento tinha ficado lotados os dois dias, logo seus outros funcionários me empurraram e me afastaram do local. Desgraçado, tinha me feito trabalhar de graça.
                No final do evento voltei até , aquele filho da puta iria me pagar, já tinha prometido para Ana comprar tecido para fazer roupa para as crianças. Entretanto quando cheguei no estacionamento já não havia mais ninguém, apenas o carro de onde tinha decido a moça dos olhos clarinhos. Fiquei olhando para ver se a via, fui me aproximando até perceber que todos dormiam inclusive ela. Parecia um anjo. E no seu colo estava uma bolsa preta com pedrinhas. A primeira coisa que me veio à cabeça foi que aquela bolsa poderia mudar a minha noite, entretanto eu não podia fazer isso com ela, ela tinha sido a única que tinha sorrido para mim em anos sem ter interesse algum em troca. Mas ladrão não pode se apegar nas sua vitimas. E não faria falta a ela como estava fazendo a mim. Abri a porta e a tirei do seu colo, ela nem se mexeu. Foi como tirar doce de criança. Fechei a porta e sai e nenhuma das pessoas que estavam naquele carro acordou. Eu não sabia nada sobre ela, vi suas fotos e percebi que era uma moça muito atarefada e já tinha viajado para vários lugares, aquelas coisas não fariam tanta falta a ela como estava fazendo pra mim.
               Lembro-me todo dia do sorriso da moça dos olhos clarinhos, mas fico mais feliz quando vejo os dos meus filhos com as roupas novas que a mãe deles fez com o tecido que comprei. A moça era boa não merecia isso, mas ladrão não escolhe suas vitimas, não se pode perder a oportunidade. Vou me lembrar sempre dessa historia toda vez que o sol nascer quadrado por esse buraco na parede que eles chamam de janela, afinal ladrão não pode perder a oportunidade e a policia também não.