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sexta-feira, 11 de março de 2016

Senhor Sorridente

Era uma tarde de segunda-feira como qualquer outra. Segundas-feiras eram dias chatos. Não tinha nem um contrato, nenhum carro novo. Mês de Fevereiro as vendas não eram muito boas. Pessoal estava voltando das férias sem dinheiro, a maioria não pensava em trocar de carro.
Chegou um senhor de azul, aparentava estar na casa dos 50 anos. Chegou sorridente pediu por um vendedor, lhe encaminhei um vendedor. Olhou todos os carros na faixa dos R$ 20.000,00, completo que tínhamos. Interessou se por um Fox 2006 completo. Disse que não abria mão da direção hidráulica, nem do ar condicionado.
Como de costume João nosso vendedor encaminhou o senhor sorridente para mim, pois era eu quem fazia os financiamentos. Fiz seu cadastro e pedi para que aguardasse, pois teria um retorno do banco em breve, ele concordou.
           - Hoje vou compra um carro, mas sempre gostei de motos. – disse o senhor sorridente entre um gole de café e outro.
                - Mas nós temos motos também.
                - Meu tempo já passou minha jovem.
                - Idade é apenas o quanto de experiência temos.
             - Sabias palavras. – Ele disse erguendo a calça e deixando visível que no lugar aonde deveria ter uma perna havia partes não humanas. Uma perna mecânica se encontrava ali.
                - Eu sinto muito. – foi o que consegui dizer.
        - Tudo bem minha jovem. Graças a esses anjos em forma de homens, que inventaram essa maravilha eu ainda posso andar.
           - Tecnologia hoje em dia salva muitas vidas. - eu disse por fim. Estava com vergonha. – Só falta aprenderem a ressuscitar as pessoas.
               - E quando eles aprenderem serei o primeiro da fila. Minha esposa infelizmente não teve a mesma sorte que eu, e faleceu no acidente. Batemos o carro de frente com um caminhão que vinha contra mão, ano passado.
Não sabia o que dizer. Tinha feito aquele pobre senhor relembrar aquilo que ainda devia machucá-lo muito. Talvez a culpa pela morte da mulher. Mas o que notei foi que ele continuava sorrindo.
                - Eu sinto muito pela indelicadeza.
               - Não sinta minha filha. Deus foi maravilhoso comigo. Ainda posso sentir o vento batendo no meu rosto, o gosto da água, posso ver as belezas que esse mundo tem a oferecer, e a cada manhã ver o orvalho nas plantas.
Aquele senhor que passou por tantas dificuldades ao longo da vida, estava ali contando para uma garota que ele mal conhecia como viver era fantástico. Senti vergonha por todas as vezes que reclamei que as coisas não deram certo. Mas eu com minha humilde vidinha de 17 anos não sabia o que era sofrer. Olhei para a tela do computador que piscava.
      - Seu cadastro foi aprovado senhor.
     - Que maravilha. Estava na hora de trocar de carro. Segunda-feira virei assinar os contratos.
      - Aguardo o senhor. – Ele saiu pela porta com o mesmo sorriso que entrou.
Passou se sexta, passou se sábado, domingo, chegou segunda e o senhor sorridente não apareceu.
Passou se terça, quarta...

Quinta-feira fui a primeira a chegar à loja. Abri o portão, peguei o jornal, e fui fazer o café. Eu não tinha o costume de ler jornal, mas naquele dia resolvi dar uma espiada nas novidades. Admirei-me quando vi a foto do senhor sorridente. Ele continuava sorrindo, mas seu sorriso já não estava mais entre nós. Tinha morrido noite passada, dormindo. Os médicos não sabiam explicar, seu coração simplesmente tinha parado de bater.
Foto retirada da internet

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